Rua Gomes Carneiro. Ao fundo o muro que separa a zona da Balsa do Campus Porto, da Universidade Federal de Pelotas.
Os moradores da Rua Pedro Osório de Brito, na Balsa, reuniram-se em protesto em novembro, dia 27, contra a construção de um muro separando as ruas Gomes Carneiro e Pedro Osório de Brito, próximo ao Campus Porto, da Universidade Federal de Pelotas. Gritando “a rua é nossa”, as pessoas chamaram atenção do Poder Público de Pelotas, através do secretário de Urbanismo, Luciano Oleiro, que embargou a obra por considerá-la irregular.
De acordo com os moradores, a responsabilidade da obra, feita em terreno particular, é da UFPel, que deseja esconder dos estudantes, professores e pessoas que visitam a universidade as moradias simples da zona da Balsa. A universidade, através de Luciane Kantorski, coordenadora do Projeto Vizinhança da UFPel, defende-se, alegando que o educandário não tem gerência sobre a obra.
A construção do muro, apelidado pelos moradores como “o novo Muro de Berlim”, foi interropida, esperando decisão judicial. A mobilização popular, portanto, frustrou o intento de construir-se obra absolutamente infame, com o fito de separar as moradias humildes que se estendem ao longo da Rua Pedro Osório de Brito do Campus Porto.
O movimento deflagrado pelos moradores da Balsa prova, incontestavelmente que, quando queremos, através de forte união, interferimos nos desmandos, nas arbitrariedades, obstaculizando o processo danoso. Se fizéssemos o mesmo em defesa da natureza, certamente o Planeta estaria respirando melhor.
O processo de conscientização poderia começar no quintal de nossa casa, numa efetiva e consciente reciclagem do lixo, armazenando-o de forma que ele não fique exposto em via pública, trazendo prejuízos à natureza e à saúde da própria população.
Se cada um cuidasse de sua parte, a vida fluiria com mais facilidade. É preciso que saibamos, de uma vez por todas, que vivemos num mundo holístico, integrado. Uma “máquina” que, para funcionar bem, precisa estar perfeitamente "azeitada". A era do mecanicismo cedeu lugar à era ecológica.
Os conceitos propagados pelos biólogos organísmicos, na primeira metade do século XX, deram conta do pensamento sistêmico, cuja ênfase é a conexidade. Assim, de acordo com tal visão, “as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades de um todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações entre as partes”.*
Os moradores da Balsa, ao protestarem contra “O Muro de Berlim”, deram exemplo de que, compreendido o processo de que cada grito dado tinha relação com o todo, as coisas poderiam mudar, como mudaram.
Magnífica ação provando que nem tudo está perdido. Nossa vontade de mudar para melhor, no dia-a-dia, não é vã à medida que se una a outras vontades, as quais, juntas como instrumentos de uma orquestra, farão soar a mais bela e vivificante música, que reproduz, em diferentes acordes, a música que embala o universo.
Visão da UFEPel da Rua Pedro Osório de Brito
Manoel Soares Magalhães
*Capra, Fritjof, A Teia da Vida, Cultrix, 2000.
É incrível, como uma Universidade, que deveria ser o berço da integração e de soluçoes inteligentes,tome uma atitude tão repulsiva e pouco criativa para resolver seu problema de paisagismo.
ResponderExcluirDessa vez a voz da comunidade foi mais forte, impedindo a continuação das obras.
E o que está lá ? permenecerá ? Se assim for, que pelo menos chamem os artistas para transformar em uma obra de arte...e pintem pelo outro lado do muro, que dá para a rua Pedro Osório de Brito, a bela paisagem que eles os moradores perderam !!!!!!!!!! Excelente texto !
Carmen