quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Copenhage Mudanças Climáticas – realidade ou ficção?





A humanidade está assistindo a um intenso debate sobre Câmbios Climáticos e as discussões que giram em torno da redução de CO2 – o suposto responsável – junto com outros chamados gases de estufa.
Todo o debate foi desencadeado basicamente pelo fato de que as variações climáticas e os eventos climáticos extremos causam crescentes catástrofes e sofrimento humano. Milhões de pessoas são atingidas por enchentes, secas, tsunamis e ciclones, causando terríveis perdas de vidas e impactos ambientais e econômicos.
Assim a discussão gira em torno de dois assuntos principais:
1. Estamos ou não numa fase de esquentamento do planeta?
2. Este aumento é ou não causado pelas atividades humanas?
3. O aumento da temperatura global se deve ou não ás emissões de CO2 e as gases estufas?
A opinião aparentemente dominante é que o aumento geral da temperatura global é de fato causado pelas atividades humanas e que a resposta para mitigar os efeitos catastróficos destas mudanças climáticas devem ser a redução de emissões de CO2.
Neste contexto, assistimos as brigas intermináveis entre os governos para negociar taxas de redução do CO2, debates sobre o tal de “mercado do Carbono” e até ameaças de inventar um imposto para financiar a redução de emissões de CO2, para arcar com os custos de uma eventual mudança no uso de energias fósseis para energias chamadas limpas.
Para o público em geral é muito difícil de formar uma opinião, porque o debate é fundamentalmente travado por cientistas num contexto de intensas brigas por interesses econômicos e políticos, não sempre muito transparentes.
Vamos tentar desvendar alguns pontos que parecem importantes de serem discutidos:
1. A primeira questão é: há Câmbios Climáticos e aumento global da temperatura?
Câmbios climáticos são fenômenos naturais que ocorreram permanentemente durante a história do nosso planeta, e certamente ocorrerão no futuro. O que está em discussão é, se as atividades humanas têm alguma coisa a ver com isso e caso positivo como estamos influenciando o clima e que podemos fazer.
Precisamos, portanto, primeiro verificar como se medem os câmbios climáticos.
Medições diretas de temperatura somente existem de fato desde o século 18. Mas é possível reconstituir o clima do passado através de dados históricos (relatos, publicações, relatórios de viajantes, etc.), análise de testemunhos de perfurações em geleiras, anéis de crescimento de árvores antigas, análises de sedimentos e evolução de corais, fósseis, etc.
Por outro lado, se quisermos saber se o clima muda globalmente, é necessário medir temperaturas em várias partes do mundo, tanto em regiões montanhosas como: nas planícies, desertos, oceanos, em tempos e intervalos diferentes. Isto porque, câmbios ou variações climáticas podem ocorrer de maneira diferente em partes diferentes do planeta.
Essas pesquisas foram feitas por um grande número de pesquisadores e demonstram resultados surpreendentes: entre os anos 1000 e 1350 D.C houve uma época de altas temperaturas na Europa, o chamado período quente medieval, seguido por uma época de temperaturas baixas entre 1400 e 1900, um tipo de período interglacial. Estas duas épocas de mudanças climáticas foram registradas em outras partes do mundo, com intensidades e variações regionais. A próxima figura mostra as temperaturas mais elevadas em vermelho. E de fato constata-se que vivemos aparentemente o início de uma época semelhante aos tempos medievais.
Comparando a temperatura média global de 1968-98 com as temperaturas desta época quente medieval, verificamos que elas eram aproximadamente 2.5°C mais elevadas na África, 0.5°C na Ásia e de 3.4°C na Europa.
2. Outro dado interessante é que os câmbios climáticos na história geológica, não foram diretamente relacionados com a concentração de CO2 na atmosfera. Houve épocas geológicas com elevadas concentrações de CO2 e temperaturas relativamente baixas, e vice versa como mostra a próxima figura. A figura mostra a concentração atmosférica de CO2 (linha preta) em relação à temperatura média do planeta (em azul), desde a época geológica do Cambriano.
3. Considerando estes dados, é lógico que a discussão em torno da responsabilidade do CO2 e dos gases de efeito estufa nos processos de câmbios climáticos está esquentando, com intensos debates e brigas em relação ao assunto. Existem pesquisadores que defendem o aumento da temperatura global, outros até afirmam que há um resfriamento e outros ainda dizem que, o aumento de temperatura não tem nada ver com as emissões de CO2 e gases de estufa.
Vejamos o que pode ser deduzido dos prós e contras deste debate:
a) Tudo parece indicar que de fato vivemos numa época de mudanças climáticas e de certo aumento global de temperatura. Na história geológica certamente a atividade solar, o balanço hídrico global (ligado a cobertura vegetal), modificações da posição dos continentes (continental drift), do eixo de rotação da terra e da órbita do nosso planeta, jogaram e muito provavelmente continuam jogando um papel importante nas mudanças climáticas do nosso planeta.
b) Entretanto, o clima planetário é resultado de uma conjunção de fatores poderosos e complexos dos quais a emissão dos gases por atividades humanas pode ter algum papel. É possível que a emissão dos gases estufa seja a famosa batida de asas da borboleta na Patagônia. Mas devemos ser humildes e lembrar que grandes mudanças climáticas ocorreram sem a existência de impactos antrópicos, e é muito provável que o sol e as mudanças da posição da Terra na sua órbita, foram os fatores determinantes dos câmbios climáticos globais na história do planeta.
c) Por outro lado precisamos reconhecer o fato que desde o início da revolução industrial aumentamos drasticamente não somente a poluição atmosférica, como a poluição do planeta em geral. A utilização dos energéticos fósseis como o carvão e petróleo empestou nossas cidades e causou doenças endêmicas em milhões de pessoas no mundo. Portanto é absoltamente fundamental que discutimos a redução das emissões de gases que poluem a atmosfera, inclusive de toda a poluição de água, dos solos, etc.
d) Finalmente precisamos considerar que a população mundial aumentou praticamente seis vezes desde o início da revolução industrial, ocupando massivamente espaços tanto geológico como climaticamente instáveis. O resultado é que milhões de pessoas são hoje atingidos por inundações e secas, ciclones, tsunamis, deslizamentos de terra, que em épocas passadas também ocorreram, causaram nenhum ou menos danos á humanidade. Além do mais, a crescente freqüência das inundações nos grandes centros urbanos se deve fundamentalmente a duas causas: (i) a impermeabilização dos solos de imensas áreas urbanas pela cobertura de asfalto e cimento, impede a infiltração das águas da chuva e transforma rapidamente ruas e avenidas em verdadeiros rios, e, (ii) os grandes centros urbanos criam micro-climas com temperaturas médias de 3ºC superiores ao seus ambientes, tornando-se estufas gigantes, capazes de causar mudanças locais do regime de precipitação. São Paulo e outras mega-cidades que o digam.
4. Considerando todos esses fatores precisamos perguntar:
a) Por que todo o debate se concentra com tanta veemência e exclusividade sobre o CO2 e os gases de estufa?
b) Quem garante que uma redução das emissões de fato, é capaz de reduzir a temperatura global ou modificar a atual tendência do câmbio climático?
c) E mesmo admitindo que, o CO2 seja um fator importante, como podemos pretender reduzir a temperatura global, se nem somos capazes de encontrar um acordo minimamente satisfatório sobre as taxas de redução das emissões? Curiosamente os expertos (ou espertos?) foram muito mais rápidos na criação do mercado de Carbono, porque é mais fácil continuar poluindo e pagar o povo da Amazônia para virar guardas florestais.
d) Como os governos podem pretender influenciar o clima se nem conseguem influenciar os “humores” do tal de mercado ou pelo menos resolver o drama da fome, que são conseqüências da atividade humana par excellence?
e) Se o motivo da discussão sobre o aumento das temperaturas é a preocupação com o sofrimento de milhões de humanos com os eventos climáticos extremos, precisamos perguntar por que a reunião de Copenhague não discute o sofrimento humano em conseqüência das guerras, das crises econômicas, desemprego e fome, do crescimento caótico dos centros urbanos com suas periferias miseráveis, que geralmente também são sempre os mais atingidos pelos eventos climáticos extremos?
f) E se os governos estão preocupados com os custos da redução das emissões atmosféricas, eles deveriam começar a discutir o fato porque eles torraram (somente este ano de 2009) um total de 1,46 trilhões de U$ em guerras e armas! No entanto, somente estão dispostos a financiar a ONU com 1,8% desta quantia, para financiar todos os programas de combate à fome e seus projetos de desenvolvimento para atingir os objetivos do Milênio(1).
5. Concluindo, a redução das emissões atmosféricas e a mudança das nossas matrizes energéticas para energias mais limpas e renováveis, são absolutamente necessárias, independentemente se há ou não mudanças climáticas. Há motivos realmente de sobra para fazer isto, mesmo se alguns acreditam firmemente que a redução do CO2 vai resolver o problema e advogam a redução das emissões por esta razão.
Si estas reduções de fato terão um efeito positivo sobre o clima, que seja bem vindo e certamente será um louvável e desejável efeito colateral. Mas querer convencer-nos que primeiro precisamos resolver o problema do clima e depois os problemas da humanidade é a mesma coisa que o famoso conto de fadas dos economistas que nos dizem que primeiro o bolo precisa crescer para poder dividir-lo em seguida.
E que não venham logo os eternos defensores do capitalismo selvagem para usar as controvérsias como argumentos para continuar poluindo o planeta e que o mercado livre vai resolver as mazelas da humanidade.
Entretanto querer focalizar o debate sobre a redução de CO2 com o argumento que isto vai modificar o clima global, e assim vamos salvar a humanidade ou mitigar seu sofrimento, é simplesmente absurdo. Enquanto os governos brigam e barganham por ridículas taxas de redução de CO2 e não estão dispostos em tocar no problema dos gastos astronômicos em guerras e outras atividades destrutivas, todo este debate cheira demais ao famoso ditado: Fazer de conta para inglês ver. No caso os ingleses somos nós mesmos.




N.Fenzl
UFPA, Dezembro, 2009

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