sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Aquecimento global





Um novo modelo de computador para prever a evolução do clima indica que as temperaturas médias da Terra vão se estabilizar até 2009, mas vão retomar logo em seguida uma curva acentuada de aquecimento global. Até 2015, afirmam cientistas, dois ou três anos deverão bater o recorde de calor de 1998, o ano mais quente já registrado na história.

A previsão foi feita por cientistas do Centro Hadley, da Inglaterra, que nos últimos anos apresentou vários dos modelos que se mostraram os melhores. A nova ferramenta é, basicamente, a mesma que cientistas já vinham usando. Agora, as máquinas recebem mais informação antes de processá-las usando fórmulas para fazer as previsões.

"Boa parte dos novos dados vêm de observações de temperatura do oceano e de sua salinidade", disse à Folha o climatologista Doug Smith, que liderou o estudo.

"Antes, a temperatura era medida a partir de navios, com equipamentos em cordas. Agora temos uma cobertura muito maior: existem estações-bóia há 3.000 metros de profundidade que sobem à superfície periodicamente e medem um perfil de temperaturas nos oceanos."

Os cientistas já atestaram a confiabilidade do método fazendo previsões do clima atual baseando-se apenas em informações disponíveis na década de 1980. Uma prova definitiva de que a ferramenta é útil porém, virá apenas com o tempo.

A grande força do novo modelo está em conseguir prever fenômenos da variabilidade natural do clima, como, por exemplo, o El Niño (o superaquecimento das águas equatoriais do Pacífico) e o La Niña (resfriamento daquela região).

"Hoje, as previsões de El niño e La Niña com até um ano de antecedência são boas, mas eles [o Centro Hadley] estão querendo fazer isso com dez anos de antecedência", diz Carlos Nobre, cientista do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos).

"Se eles provarem que é possível fazer essa previsão decadal, será um resultado científico de grande repercussão, e eles estão sendo os primeiros a divulgar isso. Mas só depois de 2009 é que a gente vai saber se o modelo acertou na previsão."

O modelo e a previsão estão detalhados em estudo na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org). "Estamos prevendo um achatamento das temperaturas médias globais pelos próximos poucos anos e depois um retorno à tendência já conhecida de aquecimento global", diz Smith. "A razão disso é mesmo a variabilidade natural do clima nos oceanos."

Segundo os cientistas, a disponibilidade de mais dados e a criação de estruturas matemáticas que permitem processá-los de maneira mais coerente ajudará a pesquisa a separar quais fenômenos climáticos são mais atribuíveis ao aquecimento global e quais são mais um fruto da variação do clima.

"Mas esse estudo também já começa a desenvolver um sistema de modelagem que mostra como o aquecimento global pode afetar a própria variabilidade natural", diz Nobre.

"Isso que está acontecendo no primeiro semestre deste ano --as inundações, as ondas de seca, as altíssimas temperaturas em parte da Europa etc.-- é o clima variando naturalmente, só que ficando mais intenso. Essa intensificação das variações naturais é atribuível ao aquecimento global."

Reflexo prejudicado

Em outro estudo na "Science" cientistas mostram como a fuligem --um produto da poluição diferente do dióxido de carbono que causa o aquecimento global-- também pode contribuir para a crise do clima.

A neve do Ártico, que reflete o Sol e ajuda a resfriar a Terra, recebeu uma carga dessas partículas sete vezes maior que o normal entre os séculos 19 e 20, diz o trabalho. Vinda sobretudo da queima de carvão, essa fuligem prejudica a capacidade reflexiva do gelo, fazendo a Terra absorver mais calor.

Fonte: Folha de São Paulo

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